Wind.River.

O rio que corre pela incerteza de um mundo menos triste. Rio esse que transbordou ontem ao ver o filme Wind River (Terra Selvagem em português).

 Vi na ignorância de quem desconhece uma realidade tão cruel, e sem saber assisti à realidade.
 A história centra-se numa situação de crime em Wyoming, Estados Unidos. Um sem rasto de mulheres desaparecidas, violadas e mortas por homens. Mulheres nativo-americanas que sem qualquer proteção da terra onde nasceram são vistas não como vítimas mas como eventuais sacrifícios sexuais. 

No Wyoming duas leis vigoram, a lei federal, lei dos estados, a lei que manda em todas as leis da grande nação evoluída que é a América, e depois a um canto de desprezo e humilhação, a pequena lei tribal, que é uma pedra num sapato facilmente descalçável para os não-nativos. A injustiça começa logo aqui pois se um nativo praticar crime contra não-nativo é julgado pelas duas leis, a federal e a sua, a tribal; mas já se for o contrário, um não-nativo que pratica um crime contra nativo, esse apenas é julgado pela lei subsidiária que é a lei tribal. De relembrar que em Portugal assim como em muitos países da Europa há a proteção digna do princípio do ne bis in idem, a proibição de se ser julgado mais do que uma vez. 

O filme é chocante, não só pelas cenas de tamanha brutalidade à liberdade destas mulheres, mulheres que no filme ainda não perfizeram os 21 anos da maioridade mas pelo facto de no final da tela sermos informados de que aquela história monstruosa é a realidade num sítio deste nosso mundo real.

E pergunto-me que escolha é dada a quem vê este filme e que vive em outro qualquer país do mundo?
É suposto continuar em frente uma luta que é invisível para muitos? Não faz parte desta mesma luta, e falo da luta pelo respeito a ser se mulher, pela dignidade que merecemos, não faz parte deste pensamento, acabar com realidades destas mesmo que seja do outro lado do planeta?

Mais do que a lei, até porque o papel é ofensivo no que diz respeito aos direitos da mulher, a mentalidade precisa de ser informada para ser mudada. Filmes como o Wind River mais do que um potencial ganhador de Oscars da Academia, é serviço público, é a informação a chegar de forma artística à casa dos ignorantes que como eu, desconhecem este sítio onde um pai pode ver a sua filha ser violada e morta e não ter a ajudar da lei, do Estado, das pessoas. 

Pois quero dizer que como mulher em Portugal também sei o que se passa.









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